quarta-feira, 16 de maio de 2012

Fonógrafo, Vitrola, CD: a música não pode parar


Do som feito ao vivo, o registro musical perdia-se no ar.

Foi só no final do século XIX, quando Thomas Edison inventou o fonógrafo, que a gravação de sons deixa de ser gravada apenas na memória do público. Levar a música para casa era surpreendente, admirável, extraordinário, como escreveu Oswald de Andrade:

 “Numa soirée em casa dele, nessa chácara imensa, foi-me apresentado o fonógrafo. Minha mãe fez questão que eu comparecesse a essa apresentação da espantosa descoberta. Uma coisa que roda e a gente escuta tudo! [...] De fato, fiquei impassível e nada exclamei quando me apresentaram a pequena máquina, onde um cilindro de cera negra em forma de rolo despedia sons musicais. Depois de exibida a invenção norte-americana – de Thomas Edison – dizia, encarecendo-a, passou-se a gravar um disco virgem. Meu pai discretamente escusou-se de dizer qualquer coisa, eu nem fui chamado. Fez grande sucesso de hilaridade um senhor que aproximando-se do disco prometeu: Doutra vez eu trago a flauta”.

O fonógrafo, e, logo em seguida, o gramofone (que usava cera, ao invés de metal nos cilindros, entre outros aperfeiçoamentos) mudaram de maneira profunda a percepção sonora. Do rolo de cera ao vinil, a reprodução do som gravado eternizou a música que antes era executada somente ao vivo. Levar o som de seu artista favorito para casa passou a ser uma realidade que ditaria novos rumos para a música, possibilitando o desenvolvimento da indústria fonográfica, e consequentemente da música em massa.

A música, naturalmente, tornou-se companheira, unindo as famílias na sala em torno de si, criando comodidade, gerando satisfação. A criação da vitrola foi o passo definitivo para a música consolidar-se como mais um membro da casa. De origem Victrola, por ser fabricada pela RCA Victor, a vitrola dispunha de recursos elétricos, não sendo mais necessário dar-lhe corda para funcionar.


Era o adeus ao disco de cera. O vinil teria vida longa, mas décadas depois se tornaria idoso, e, portanto, dispensável para a tristeza dos saudosos, audiófilos e ouvintes conscientes.  O nascimento do CD (Compact Disc) abriria com chave de ouro a era digital, mas a qualidade do som ainda era inferior ao disco de vinil.  O CD, portanto, se impôs porque simplesmente era mais barato fabricar CDs do que discos de Vinil. Os velhos ‘LPs’ (Long Play) deixaram de ser fabricados em massa, no início dos anos 90, para desespero dos fãs e colecionadores dos simpáticos ‘bolachões’.

A experiência de colocar pela primeira vez a agulha no disco ouvindo aquele ‘chiado’ maravilhoso reduzia-se a apertar alguns botões. O momento mágico da descoberta de sons na sala de sua casa descrito por Oswald de Andrade perdeu seu charme, seu brilho, desgastou-se com o tempo. Quem não se lembra de tirar o vinil da embalagem, apreciando os detalhes da arte da capa, que era o grande atrativo para conhecer melhor o conteúdo? Comparar o lado A, com o lado B. Sim, era outra maneira de lidar com a música, que eu não me esqueço jamais. E que você certamente também não esquece.

Inesquecível, também, sem dúvida alguma, foi o surgimento da fita cassete. Apesar da qualidade de som razoável, os primeiros gravadores com áudio cassete já eram portáteis, permitindo um deslocamento antes impossível, além de gravações das músicas da rádio. Aguardar ansiosamente o locutor anunciar sua música favorita com o dedo no botão ‘rec’ (record), era chato, mas ao mesmo tempo mágico. No final dos anos 1970, com a invenção do Walkman, outro paradigma tecnológico foi rompido trazendo um novo modo de apreciar a música. A venda de conjuntos integrados (no Brasil 3 em 1) com receptor FM, toca-discos para vinil e gravador cassete fizeram com que houvesse uma enorme difusão nas fitas gravadas em casa. Agora, cada pessoa podia fazer a sua seleção músicas retiradas diretamente de seus discos prediletos,  curtindo o som na rua através de seu fone de ouvido.

A explosão do som individual teve seu auge com a internet, e aparelhos como o IPOD. O formato digital sem ruídos, com uma capacidade de armazenar milhares de música alterou definitivamente a forma como consumimos música. Em minutos é possível encontrar um disco, ou somente um ‘single’, e baixá-lo gratuitamente, para na seqüência reproduzi-lo no seu tocador de mp3 ou similar.

O CD, grande novidade dos anos 1990, hoje em dia, é ultrapassado. A indústria fonográfica sofre com as fracas vendas. Boa parte dos consumidores não vê mais  necessidade em adquirir um disco, gastando dinheiro com um produto que é facilmente encontrado na rede mundial de computadores. Baixar, compartilhar, e armazenar tornaram-se palavras de ordem.      
           
Apesar deste cenário de mudanças constantes, incertezas e desolação em relação ao CD e ao digital em geral, há um movimento saudosista que tem ganhado muita força ao colocar em funcionamento a velha vitrola. A redescoberta do vinil é ancorada pelo retorno do interesse dos fabricantes, que enxergaram o retorno deste mercado. De fato, à criação de novos modelos de vitrolas, tecnologicamente mais evoluídas, com um alto grau de qualidade e precisão mecânica nos seus diversos componentes empolga os fanáticos pelo vinil de hoje e de ontem. A alta qualidade sonora está de volta. A vitrola, velha amiga do passado pode até empoeirar, e o vinil ficar ali, guardado, por anos na coleção. Não importa. A música não pode parar, e a Vitrola nunca vai morrer. 

Fontes:
Livro: História Social da Música Popular - José Ramos Tinhorão
Livro: 'Ouvinte Consciente' - Sérgio Correa
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10 comentários:

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