terça-feira, 22 de novembro de 2011

SWU 2011 - O dia do rock


Estive na fazenda Maeda em Itu, no ano passado, acompanhando o festival SWU (Starts With You) que alia música, arte, e sustentabilidade. Como sou veterano em festivais de rock, esperei pelo pior. E recebi o pior. Chegar até a entrada da pista era uma aventura; os palcos, um ao lado do outro, sufocavam quem queria ir de um show ao outro. Uma verdadeira bagunça. Isso sem falar dos banheiros e da praça de alimentação. Melhor nem comentar.

Na segunda edição do festival, há duas semanas, a estrutura mudou de Itu para Paulínia, (120 km de SP), e melhorou. Com uma área bem maior, e uma organização já calejada, quase todos os problemas do ano passado foram solucionados. Fui somente no dia do rock, 14/11, e o acesso até a entrada da pista foi bem sosssegado; os palcos principais ficaram bem distantes um do outro; e a praça de alimentação conseguiu atender a demanda com sucesso. O que a organização não esperava era ter carros atolados no estacionamento oficial do evento. Paciência. Esse tipo de situação acontece, e boa parte do público nem ligou muito para esta dor de cabeça, após ver bandas como Down, Sonic Youth, Megadeth, Primus, Stone Temple Pilots, Alice in Chains e Faith No More. Um verdadeiro prato cheio para fãs de rock dos anos 1980 e 1990. Vou contar agora o que estes olhos viram e o que estes ouvidos registraram. Tudo devidamente eternizado na memória. Vamos lá.

Os gritos de “Temptations Wings” de Phil Anselmo ecoavam na lateral do Parque Brasil, quando cheguei ao show do ‘Down’. Som redondo, pesado, e que classifico sem pestanejar como trash/metal/grunge. O disco ‘Nola’, tocado na íntegra provou isso. O destaque ficou para o refrão de ‘Walk’, clássico do Pantera – ex banda de Anselmo. Naquele momento, o chão estremeceu.

Barulho e suavidade. Não existe definição melhor para o som dos nova iorquinos do Sonic Youth. Com 30 anos de carreira completados em 2011, o grupo faz uma música visceral. Uma música profunda, intensa, recheada de distorções, experimentalismos, e improvisações pontuais. É a arte do barulho mostrando o seu rosto de forma aberta. Noise rock de primeira qualidade que influenciou todo o movimento grunge. Mudhoney, Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden. Todos se referem ao Sonic Youth, como ‘os caras’. E eles são. O show no SWU mostrou isso mais uma vez. Show impecável com clássicos dos discos “Dirt’, ‘Goo’, e Daydream Nation. Mas, segundo boatos, esse pode ter sido a última apresentação do grupo. A separação do casal Thurston Moore (guitarra) e Kim Deal (baixo) pode representar o fim das atividades. Em nome do bom rock que ainda sobrevive, espero que sejam somente especulações.

Ao fim do show do Sonic Youth a noite caiu. E a chuva também. Naquele momento resolvi testar a praça de alimentação e matar um pouco a fome. No retorno, prestei pouca atenção no show do Primus, porém, o pouco que vi percebi a qualidade da banda. O baixo destruidor, de Les Claypool, é realmente impressionante. Se a banda aparecer por aqui novamente, e sozinha, faço questão de observar o grupo mais de perto, com mais afinco.

Depois veio o Megadeth. A legião de fãs já gritava o nome da banda ao fim do último show. E para o delírio dos metaleiros, Mustaine, e sua turma subiram ao palco e fizeram seu papel. Para mim, mais do mesmo. Megadeth é uma banda que não acrescenta muito ao vivo, em comparação aos seus discos de estúdio. Tenho respeito pela história do grupo, mas parafraseando o grande amigo Bruno Miguel, após esse show, ficou claro porque Mustaine foi demitido do Metallica.

Era chegada a vez do Stone Temple Pilots - banda da segunda cria do grunge - muito hostilizada, mas também adorada. Particularmente, acho um som bem interessante, porém, a apresentação de Scott Weiland e seus companheiros ficou marcada como o show de abertura de Alice in Chains. E todo mundo sabe como é show de abertura. A galera não vê a hora de acabar o quanto antes.

Então veio a hora tão esperada. Alguns minutos antes do início do show do Alice in Chains, o clima na pista era de ansiedade total e felicidade. Da última apresentação da banda no Brasil, em 1993 até 2011, muita coisa aconteceu. Em 2001, com a morte do vocalista Layne Staley, o grupo de Seattle encerrou as atividades para a tristeza dos fãs ardorosos do melhor do grunge. Mas em 2005, o guitarrista Jerry Cantrell, reuniu novamente os companheiros e chamou o vocalista Willian DuVall, para lançar uma disco em homenagem a Staley. Surgia “Black Gives Way To Blue”, que rendeu uma turnê mundial e um retorno definitivo. Em um instante, gritos na multidão, e Sean Kinney dá as três primeiras batidas nos pratos que trazem “Them Bones”, e o grito galera: “Ahhhhhh”...”Ahhhhhhh”!!! Êxtase total. O que se viu depois foi uma sequência de grandes clássicos dos anos 1990, e três músicas do disco novo. No intervalo de cada música, a banda era ovacionada aos berros: “Alice in Chains”, “Alice in Chains”. Sem dúvida, um sonho realizado para quem não estava no Hollywood Rock, em 1993. Um sonho grunge, que incomodou muitos vizinhos, e que inspirou muitas tardes e noites de sábado. Letras melancólicas, depressivas, riffs pegajosos, pesados, completados por um baixo pulsante, uma bateria vibrante, e duas grandes vozes. O grunge em sua essência, trazendo as recordações da adolescência. Melhor show da noite, quiçá do ano.

Com o fim do show do Alice in Chains, faltava o desfecho, a cereja do bolo. E o Faith No More, mostrou mais uma vez ser mais do que isso. A volta do grupo há alguns anos atrás, evidenciou a mudança de comportamento do vocalista Mike Patton. Nos anos 1990, a possibilidade de um show ruim do grupo era grande. Patton, sempre muito drogado, se divertia tanto no palco que chegava a estragar o show muitas vezes. Hoje em dia, ele ainda possui a cara de maluco, e segundo revistas especializadas, ainda usa drogas, porém, sua atitude é totalmente diferente. Patton é sinônimo de extravagância, loucura, mas seu carisma e presença de palco, completado pelo incrível controle e potência vocal, o transformaram em um dos maiores vocalistas do rock. No SWU, a banda conquistou o público logo de cara, com o jeito carismático e cara de pau de Patton. Não que seja um artifício para esconder a falta de qualidade do som. Muito pelo contrário. O Faith No More, ao vivo, é uma pancada no ouvido misturada à suavidade de boas melodias. Ao final do show, é hora de levar o corpo cansado para casa com o gostinho de satisfação e felicidade plena. A chuva, a lama, e os empecilhos no caminho, mostraram-se pequenos obstáculos no caminho. Quem foi ao festival sabe que pequenos detalhes esqueceremos com o tempo. Mas os shows, ahh!!! Os shows, não esqueceremos jamais!

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