Junho de 1993, setembro de 2011. Não, ninguém morreu. Este é o longo período de atividade de Rogério Ceni, 38, como goleiro do São Paulo Futebol Clube. Ontem, no Morumbi, diante do Atlético Mineiro, 63.500, tricolores acompanharam o milésimo jogo de Ceni com a única camisa que ele conhece, justamente no dia que se completou 21 anos de sua chegada ao São Paulo. No futebol brasileiro, apenas dois jogadores tiveram feitos semelhantes. Pelé, o maior da história do futebol com números imbatíveis, atuou 1.114 vezes pelo Santos; e Roberto Dinamite fez 1.065 partidas no Vasco, clube que hoje preside. Mas os tempos eram outros. Até os anos 1980, o mercado da bola levava poucos jogadores para o exterior, e por essa razão muitos nomes tornavam-se ‘prata da casa’. A história começou a mudar com a globalização que atingiu em cheio o futebol no meio dos anos 1990. Constituir fortuna, brilhar em gramados europeus e ser reconhecido para atuar na seleção brasileira passou a ser o objetivo mor.
No caso dos goleiros o papo muda um pouco. Nas várzeas brasileiras, o gol sempre foi destinado ao moleque ‘grosso’, ruim de bola. O goleiro brasileiro também nunca foi muito respeitado lá fora, até que Taffarel mudou este cenário. Fundamental na conquista da Copa de 1994, foi Taffarel quem abriu as portas da Europa para nossos goleiros. Mesmo assim, foi só no começo do ano 2000, que as portas se escancararam. Dida foi um dos grandes nomes à frente da legião de guarda-redes que deixou nossos clubes nessa época. Voltando à Rogério Ceni, fica a questão: se o goleiro iniciasse sua carreira no começo ou meio da década passada, as propostas do exterior não o levariam embora? A mesma pergunta cabe a Marcos, do Palmeiras. Para eles, foi conveniente construir essa identificação com os clubes porque quando receberam propostas já estavam consolidados, e porque nunca tiveram substitutos à altura que incomodassem a construção da ‘aura’ de ídolos. No atual momento do futebol mundial, alguém acredita que Deola irá fazer carreira no Palmeiras quando Marcos se aposentar? O mesmo exemplo fica para o São Paulo. O torcedor pode e deve comemorar e reverenciar o ídolo, mas é necessário mais razão e menos emoção. A camisa do clube como segunda pele já não existe faz tempo.
Crédito da foto para (Nelson Antoine/Fotoarena)
Um comentário:
Concordo com o pensamento. Acredito que Rogério e marcos tenham recebido propostas que muitos outros profissionais considerariam irrecusáveis. Mas por já estarem consolidados na ocasião e por terem uma identificação verdadeira com os clubes que defendem, acabaram optando por uma carreira mais ligada à paixão que necessariamente ao dinheiro.
De qualquer maneira, os goleiros são ainda um caso a parte no futebol brasileiro. Por mais que vejamos alguns profissionais dessas posições partirem para desafios na Europa, ainda temos uma certa tendência pela identificação com o clube. Talvez o Fábio, do Cruzeiro, seja um bom exemplo disso. Ele é de uma geração um pouco mais recente, mas não demonstra aptidão para sair da Raposa. O tempo vai nos dizer qual será a atitude dele no caso de receber uma proposta irrecusável. Acho que o mais importante é exaltar Marcos e Rogério por suas verdadeiras façanhas e torcer para que isso um dia se torne frequente no nosso futebol, cada vez mais carente de ídolos e de jogadores / torcedores.
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