Farofa Apimentada: Minhas impressões da Virada Cultural

Como nas edições anteriores, os shows musicais foram os que atraíram maior público na quinta edição da Virada Cultural, em São Paulo, que terminou ontem, no início da noite. A maratona que também teve peças de teatro, filmes de terror, dança, malabarismo e manifestações de artistas plásticos, atraiu cerca de 4 milhões de pessoas, segundo estimativas da Prefeitura, novo recorde do evento. Dentre as mais de 800 atrações, passei pelo palco Toca Raul, na Praça da Luz, no reggae-dub no Anhangabaú, na República, onde vi o de Camisa de Vênus, Velhas Virgens e Nação Zumbi. No show do Coletivo Instituto, fiquei bem decepcionado porque não pude ver nenhum integrante devido a grande quantidade de pessoas na Avenida São João, e ao palco que foi montado muito baixo.

Em todos os show que citei acima, em nenhum fiquei à vontade. O metro quadrado, principalmente no palco do rock, era disputado quase no tapa. O empurra-empurra é normal, mas em alguns locais era insuportável. Acho que o erro da organização foi a proximidade dos palcos. A ideia de concentrar muitas atrações no centro é genial, mas esqueceram de pensar no aumento do público, o que gerou um "efeito panela de pressão". Com tanta gente, observei muitas pessoas passarem mal, isso fora o excesso no consumo de drogas e bebidas alcoólicas que deixou muitos nocauteados no chão ou na grama das praças. Os 900 banheiros químicos espalhados pelo centro (três vezes mais do que em 2008), não foram suficientes para a demanda. Realmente era difícil entrar em um na madrugada devido ao mal cheiro, mas o bom senso e a bexiga pediam esse esforço. Muitos que não estavam nem aí, urinavam em quem passava embaixo do Viaduto do Chá, ou na rua. Ao amanhecer era possível avistar verdadeiras lagoas de urina.

O lixo é um caso à parte. Por onde se passava à visão era de ruas cobertas por sacos, latas, garrafas e restos de comida. Não tinha jeito. Era muita gente! Os palcos de eletrônica ficaram pequenos para a Virada Cultural. Os espaços montados nas ruas 15 de Novembro (house e tecno), Anchieta (em frente ao Páteo do Colégio; com DJs representando casas noturnas) e no lgo. São Francisco (trance) atraíram muito mais gente do que os locais comportavam. Por isso nem fiquei muito em nenhum desses locais. Foi um verdadeiro sufoco. Presenciei por onde andava discussões e brigas, sempre com a polícia ausente, ou fazendo "vista grossa". Já o transporte foi o ponto baixo desta edição. Houve tumulto nas estações de metrô da região central no início do evento até a madrugada de ontem. Quem optou pelos ônibus, e achou que seria reforçado o número de linhas se deu mal. Eu fui um deles. Segundo relato de populares, muitos carros deixaram de circular ás 2 da manhã. A previsão de volta para muitos foi entre 4h30 e 5h00.

Foto: Valéria Gonçalvez

De acordo com o site G1, até a hora do almoço do dia de hoje, muito lixo ainda se encontra no centro da cidade. A minha impressão da Virada nesta quinta edição foi ruim. Fui com a intenção de me divertir com amigos e encontrei dificuldades e problemas que poderiam ter sido evitados pela Organização (SpTuris). O exemplo deste ano tem que ser bem avaliado para a obtenção de melhores resultados em 2010. Apesar do abuso de algumas pessoas, o povão só quer curtir os shows e as atrações que muitas vezes não tem acesso. A Prefeitura está de parabéns por manter o evento e por se superar na contratação de grandes bandas. A Virada é um sucesso pela aceitação popular, mas tem que mudar alguns pontos importantes e detalhes para transformar o evento em uma festa com menos tumulto e desordem. Creio que as medidas que serão adotadas não devem acabar com a balbúrdia e algazarra, mas irão aumentar o nível de qualidade do evento. Não vou deixar de ir no ano que vem na sexta edição, mas com certeza vou chegar ao centro com menos empolgação e esperando encontrar o pior. Espero me surpreender.

Ouça abaixo a entrevista do Prefeito Gilberto Kassab, que falou ontem pela manhã, sobre o lixo e sobre sua impressão da Virada.