sexta-feira, 27 de março de 2009

Vizinhos de altos interesses

O novo cartão-postal de São Paulo esconde ao seu lado uma história de resistência. A ponte estaiada Jornalista Octávio Frias de Oliveira, localizada em uma região muito valorizada na cidade, tem como vizinha a favela do Jardim Edite. O que se vê em volta são inúmeras contruções, (eu contei quatro em duas quadras), além de milionárias estruturas arquitetônicas, como a Rede Globo, hotéis de luxo, e outras grandes empresas. Em meio a região emergente, a sub-prefeitura de Pinheiros começou a desocupar a ponta da favela, na esquina da Rua Araçaiba com a Avenida Jornalista Roberto Marinho. O terreno ocupado pela favela Jardim Edite faz parte da Operação Urbana Água Espraiada, e está em área de Zona Especial de Interesse Social (ZEIS 1), o que obriga a Prefeitura a criar projetos de habitação no local ou na região para acomodar os moradores. Não sei se essa é a intenção do poder público.



O Plano Diretor Estratégico de São Paulo de 2002, determinou a região em uma ZEIS. Nesses locais, o governo é responsável por organizar a demanda local junto com os moradores, mobilizar um financiamento e promover melhorias urbanísticas na favela. O Plano Diretor garante que a finalidade do terreno deve ser de 40% para habitação, 40% para o comércio e 20% de uso livre. As famílias só poderiam ser removidas para outro local se permanecerem no perímetro do bairro. Durante o debate no segundo turno entre Kassab e Marta, o atual prefeito afirmou que seriam construídos prédios no lugar da favela para acolher os moradores.

Passei a acreditar na promessa de Kassab, e observei no começo desta semana o início da remoção dos moradores. Com o trator passando por cima dos barracos, as pessoas assistiam do outro lado da rua a demolição de seus sonhos. Alguns começam a olhar com esperança a construção de moradias decentes, mas a permanência na área está em debate com a prospota enviada pela Prefeitura á Câmara dos Vereadores que muda uma regra importante das Operações urbanas.



As mudanças contidas na revisão do Plano Diretor, dá a Prefeitura o direito de tirar moradores de qualquer terreno desapropriado e instala-los em conjuntos habitacionais a serem erguidos na periferia. Já ficou clara que a intenção de Kassab era mandar para bem longe as famílias da favela jardim Edite. Em 2007, a Prefeitura ofertou duas propostas: a primeira "presenteia" a família com cheques-despejo cujos valores variavam de R$ 5 mil a R$ 8 mil. A segunda ofereceu moradia em outros locais, como o conjunto habitacional da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), no Campo Limpo (extremo da Zona Sul), e no conjunto José Bonifácio (extremo da Zona Leste), da Companhia Metropolitana de Habitação(Cohab)



De acordo com a Associação de Moradores do Jardim Edite, cerca de 396 famílias saíram da favela após as ofertas da prefeitura. A maior parte aceitou os cheque-despejos; aproximadamente 77 famílias optaram pelos conjuntos habitacionais. Hoje, 420 continuam no local, com apoio da Defensoria Pública do Estado de São Paulo.

A comunidade do Jardim Edite começou a se instalar no local na década de 70 e metade das famílias residem na área há mais de 10 anos. Antes de qualquer discussão sobre a área, tem de haver o respeito as famílias. A maioria da população da favela é gente de bem, trabalhadora, e que se mata de sol-a-sol para garantir seu sustento. É necessário somente um pouco de bom-senso para barrar a revisão no Plano Diretor, que além de prejudicar os moradores de favelas, permite as construtoras e investidores erguerem prédios de altura superior aos limites de determinados bairros.


                        Moradores de um barraco observam a destruição ao lado de seus móveis

Claro que a Prefeitura não ia ficar de bobeira. Ela receberá dinheiro das empresas para financiar obras públicas, além das famosas doações ocultas em anos eleitorais. É um grande jogo de interesses que coloca mais uma vez o lado mais fraco em desvantagem. Estou acompanhando o que vai acontecer. Um dia volto a falar novamente deste assunto que tira o sono de muita gente.


Fotos de Fabrício Amorim

Fontes:
Estado de São Paulo
G1
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18 comentários:

Anônimo disse...

O pessoal do jardim edite que esta sendo removido com certeza não acreditou nas promessas do Kassab vulgo (Kiko) que no mesmo lugar seria construído prédio para abrigar as famílias que ali reside.

Eles sabem que DEMO E PSDB detesta pobre,eles não respeita as leis, o certo eles teriam que construir um prédio no mesmo local pra acolher os moradores, mais como é uma área nobre, eles deram um passa moleque nos moradores.

Anônimo disse...

Vou fazer um blog oposto ao seu... pra vc conseguir perceber como a vida é mais bonita se não pensarmos somente nos problemas ou nas coisas que não gostamos ou não concordamos... pq não falar, por exemplo, de coisas engraçadas, do que o Brasil tem de bom, se é que tem? pq não falar dos amigos? de coisas e pessoas que deixamos para trás e sentimos ou não saudades? meu Deus, para de reclamar da vida, do país, do jornalismo, das músicas, das coisas chatas da vida... seja mais FELIZ!!

Anônimo disse...

AO ANONIMO!!!

" A ÚNICA COISA NECESSARIA PARA QUE O MAL TRIUNFE É OS HOMENS DE BEM NÃO FAZEREM ABSOLUTAMENTE NADA"

Anônimo disse...

Como se fosse adiantar alguma coisa o que vocês fazem nesse blog... parabéns! Isso é que é esperança...

Fabrício Amorim disse...

Anônimo(a),

Seus comentários são sempre muito bem-vindos. Fique a vontade para opinar.

Quanto a remoção dos moradores do Jardim Edite, vamos aguardar, e ficar de olho na Revisão do Plano Diretor. Esse assunto ainda deve render muita discussão.

Unknown disse...

Dureza em! Ter que sair do lugar onde se mora tanto tempo, espero que o pessoal da comunidade fica no mesmo local. Seria muita sacanagem da prefeitura!!

Anônimo disse...

Morador Indignado

Bom dia pessoal, sobre este assunto está na hora de se comprar um óculos para conseguir enxergar que não são só os moradores que passaram a viver naquele local a partir de 1974 quando houve naquela época a desapropriação de casas que ali existiam para a construção de um mini anel viário chamado de mini cebolinha em alusão ao cebolão e não na decada de 1960 como escrito.
Existem neste mesmo quarteirão onde desejam instalar estes conjuntos habitacionais legítimos proprietários de imóveis que há 40,50,60 anos compraram seus terrenos no então loteamento lançado e com muito sacrifício construíram suas casas pagaram pela colocação de postes de iluminação pelo calçamento das ruas e até hoje pagam altíssimas taxas de IPTU por residirem na tão falada região nobre.Diga-se de passagem ocupam 50% da area a ser utilizada para as edificações das moradias populares e a se confirmarem as previsões pelas quais Vocês estão lutando e acham tão justas serão desapropriados,e terão que desocupar sua casas construidas com tanto sacrifício e de lembrança levarão seja lá para onde for as marcas que estão em suas canelas das inúmeras enchentes que ali enfrentaram até que o local obtivesse o valor atual, ocasiões nas quais pode-se imaginar o que acontecia pois nada é de diferente do que se vê hoje em dia a não ser que não se tinha apoio de ninguém pois nem a defesa civil atuava naquela época.
Peço apenas que abram suas visões e sentimentos pois podem ir conferir que 60 a 70% desses moradores são pessoas de muita idade e que não tem quem os defendam ,pois a imprensa não divulga e um a mais um a menos que venha morrer de desgosto por tal situação não vai impedir que nenhum político seja eleito ou reeleito.Agora lutar pela classe menos favorecida...............

Abraços e a disposição para mais detalhe pois a riqueza dos mesmos é grande.

Morador Indignado.

Fabrício Amorim disse...

Anônimo(a)
morador indignado,

Realmente a informação sobre a época que os moradores passaram a viver no local está incorreta. O ano correto é 1973 e o texto foi corrigido.

Obrigado pelo comentário, e fique a vontade para compartilhar mais informações sobre o assunto e região.

Fabrício Amorim disse...

A imprensa não vem dando a cobertura necessária a esta situação, mas encontrei este link interessante do dia 27/03

http://noticias.uol.com.br/ultnot/agencia/2009/03/27/ult4469u39253.jhtm

Anônimo disse...

Acho que as autoridades deveriam ser imparciais em relação ao assunto Jardim Edith. Pois oque vejo lá não são só pessoas carentes, mas muita bandidagem e tráfico rolando a vontade. Sem respeito nenhum aos cidadãos de bem que por lá moram e pagam seus altíssimos IPTU's. Quanto aos legítimos moradores alguns não sobreviveram de tanto desgosto por verem seus lares sendo trocados sei lá para que. Hoje a média de idade deles é de 78 anos. portanto.......
Morador indignado 2

Anônimo disse...

Desculpem meu erro de português é SOBREVIVERÃO e Não sobreviveram
Morador indignado 2

Alicia Marques disse...

Acho que bandidos e tráfico de drogas rolam em qualquer favela, e até em qualquer local da cidade. Ja morei um tempo no Brooklin e não acredito que sejam construidas moradias populares no local da favela. Para onde esses moradores vão? E o respeito do Estado? Cadê a assistência social?

O que não consigo entender é a preocupação dos cidadãos de bem que moram ao lado da favela e pagam um altíssimo IPTU. Logo, logo, voces também sairão desta região, mas ao contrário do Edite, receberão muita grana da construtora. Tudo isso me revolta!!

Anônimo disse...

Ainda bem que vc não mora mais.

Luis Bonja disse...

Vamos dar a oportunidade de Kassab fazer um bom trabalho e construir moradias decentes as famílias. Votei em nosso prefeito e creio que se ele prometeu, vai cumprir! Resta somente aguardar e voltarei com felicidade para falar das moradias populares no mesmo local.

Fabrício Amorim disse...

Ficarei feliz em escrever um post com várias fotos das novas moradias. Pode voltar a comentar Luis, porque este assunto não será esquecido.

Aí vai mais um link de uma notícia que saiu no Editorial do Estadão:

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090402/

not_imp348641,0.php

A AMJE - Associção de Moradoes do Jardim Edith, disse...

Desculpe, mas postei a integra + o link desta materia no site http://jardimedith.blogspot.com.br, se quizer eu retiro...Grato AMJE Assoc. de Moradores do Jardim Edith

A AMJE - Associção de Moradoes do Jardim Edith, disse...

Excelente materia..

Sempre precisamos ver as opnioes dos dois lado.

Amje

Anônimo disse...

E fica todo mundo aí querendo que esse povo continuasse na miséria absoluta, só por que estão aí ha anos... Que vão pros CDHUs em condições mais dignas. Eu moro na periferia por que é o que posso pagar( em área "legal", não invadida), por que eles não podem morar longe também?