Assisti neste final de semana ao filme “Última Parada 174”. Dirigido por Bruno Barreto, a película mostra uma história lateral ao sequestro do ônibus, contando a história de Sandro Barbosa do Nascimento – rapaz de 22 anos que protagonizou um espetáculo televisivo de violência ao vivo, ao seqüestrar um ônibus com dezenas de passageiros, no ano de 2000.
O episódio que aconteceu no Rio de Janeiro, foi transmitido ao vivo para todo o Brasil, e visto por mais de 60 milhões de pessoas. Voltando ao filme, que achei fraco, Barreto exagera na carga melodramática do material filmado, criando uma série de momentos artificiais e exagerados. O excesso de música e câmera lenta quase joga o filme na vala comum.
Tudo bem que o roteiro é engenhoso, mas a mensagem trata da velha equação que explica e justifica a violência e a criminalidade com base na desigualdade e na miséria. Sandro comeu o pão que o diabo amassou, é verdade, mas isso não eliminou sua liberdade de escolha. Fosse assim, todos os miseráveis seriam ladrões, assassinos ou traficantes. Esse discurso da vitimização que contamina “Última parada 174” – e muitos outros filmes brasileiros recentes, de temática social – tem algumas características preocupantes.
Foi uma pena o diretor ter deixado de lado uma personagem esquecida, que revelaria outra dimensão da tragédia: Geísa, uma moça que também nasceu na pobreza, deixou o interior do Ceará para tentar a vida no Rio, morava na Rocinha e dava aulas para crianças, por um salário de R$ 300. Uma jovem cuja trajetória de superação só foi interrompida, de forma estúpida, pelo acaso de estar no mesmo ônibus que Sandro.
Entre o filme de Barreto e o documentário de José Padilha, fico com a segunda opção. Corajoso e inteligente, Padilha faz uma investigação minuciosa, baseada em imagens de arquivo, entrevistas e documentos oficiais. Com rigor jornalístico e com uma ótima narrativa, o documentário, lançado em 2002, é nota 10!
Como dizia Jean Jacques Rousseau, “O homem nasce bom e a sociedade o corrompe”. Você que leu essa postagem até o final conhece o filme de Padilha? Garanto que ele toca fundo na ferida a ponto de coçar a consciência do espectador, mostrando a cara suja da realidade do sistema. Fica abaixo um dos três melhores documentários já produzidos na história do cinema brasileiro.
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