domingo, 4 de outubro de 2009

Primórdios do cinema


Na segunda década do século passado, mais precisamente no ano de 1924, alguns artistas radicais da vanguarda francesa se reuniram para produzir um dos mais marcantes filmes de toda a história do cinema. Entr´acte foi idealizado por Francis Picabia (pintor), Erik Satie (compositor), René Clair (cineasta) Marcel Duchamp (multi artista), Mar Ray (fotógrafo) e Jean Bordin (bailarino). Eles criaram um atrativo e experimental curta onde foram exploradas todas as possibilidades possíveis da linguagem cinematográfica. Originalmente, Entr`acte – entreatos – resultou do intervalo na partes de um escandaloso balé, para preencher o tempo e fazer a transição de um ato para o próximo.

Foram muitas as inovações de Entr´acte. A câmera começa a ter maior mobilidade e o movimento dela traz uma impressão surrealista ao filme. Algumas imagens são distorcidas, sobrepostas, lentas e fora de foco, o que traz ao espectador a sensação de uma nova descoberta em termos de linguagem. Os ângulos inusitados e ritmos frenéticos também têm de ser destacados. É muito válida a captação de imagem panorâmica pelo diretor, já que esse recurso encontrava dificuldades devido a limitação da tecnologia das câmeras da época. A partitura foi criada por Erik Satie, que nomeou dez seções associadas ás cenas do filme. Para este filme, ele utilizou a chamada música mobília, composta em 1920, com variações que pretendeu transformar em música de fundo, para sons que o público deveria produzir como interferência, e abordou a “técnica despedaçada” e “repetitiva”.

Três anos após o lançamento de Entr’ acte, surge um divisor de águas na história do cinema. Em 1927, o sistema de sonorização Vitaphone – uma enorme e desajeitada máquina de projeção, imortalizou o filme “O cantor de jazz”, que sincronizava o filme a um disco de 33 rotações. Suas inconveniências eram grandes, a baixa qualidade da amplificação da época, o chiado do disco e a eminente possibilidade do disco riscar com o tempo, e tirar o filme de sincronismo. Mas foi um sistema pioneiro que fez com que toda a conquista dos músicos até aquele momento precisasse recuar aos primórdios do som para o cinema, repensar a função dramática do som, que agora poderia incluir não só música, mas também diálogos e ruídos. O Cantor de jazz é um marco porque foi considerado o primeiro filme de grande duração com falas e canto sincronizado. Toda a estrutura básica do longa, vem dos filmes mudos, mas há um diálogo entre os personagens durante o filme. Foi uma evolução que veio para não sair mais das novas produções a partir de então.

Al Jolson, foi o ator principal e o primeiro a falar e cantar em um filme, dirigido por Alan Crosland. Com o tempo, a simples "ilustração" musical redundante passou a ser vista como um terreno promissor de possibilidades. A partir daí, técnicos surgiram, os que já trabalhavam tiveram que reaprender, de acordo com os novos padrões estéticos, o som. Os limites dos quatro cantos da tela ficaram sem barreiras de linguagem, já que passou a existir a possibilidade de saber algo que está acontecendo fora das quatro linhas que determinam à imagem. Se há um tiro, um grito ou qualquer outro efeito sonoro óbvio fora da imagem, e o personagem reage a ele, o espectador sabe o que está acontecendo. Esse fator expandiu a linguagem e o espaço. Foi um primeiro passo no qual não tinha como voltar atrás. Os filmes mudos passaram a ser substituídos pelos filmes falados, e passaram a ser uma grande novidade. Os espectadores e freqüentadores assíduos das salas de cinema passaram a desfrutar dessa nova forma de fazer cinema, onde as possibilidades que o som sincronizado permitiram, fizeram da sétima arte a magia de sonhos fantásticos que lota as salas de exibição até hoje.


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