
Na segunda década do século passado, mais precisamente no ano de 1924, alguns artistas radicais da vanguarda francesa se reuniram para produzir um dos mais marcantes filmes de toda a história do cinema. Entr´acte foi idealizado por Francis Picabia (pintor), Erik Satie (compositor), René Clair (cineasta) Marcel Duchamp (multi artista), Mar Ray (fotógrafo) e Jean Bordin (bailarino). Eles criaram um atrativo e experimental curta onde foram exploradas todas as possibilidades possíveis da linguagem cinematográfica. Originalmente, Entr`acte – entreatos – resultou do intervalo na partes de um escandaloso balé, para preencher o tempo e fazer a transição de um ato para o próximo.
Foram muitas as inovações de Entr´acte. A câmera começa a ter maior mobilidade e o movimento dela traz uma impressão surrealista ao filme. Algumas imagens são distorcidas, sobrepostas, lentas e fora de foco, o que traz ao espectador a sensação de uma nova descoberta em termos de linguagem. Os ângulos inusitados e ritmos frenéticos também têm de ser destacados. É muito válida a captação de imagem panorâmica pelo diretor, já que esse recurso encontrava dificuldades devido a limitação da tecnologia das câmeras da época. A partitura foi criada por Erik Satie, que nomeou dez seções associadas ás cenas do filme. Para este filme, ele utilizou a chamada música mobília, composta em 1920, com variações que pretendeu transformar em música de fundo, para sons que o público deveria produzir como interferência, e abordou a “técnica despedaçada” e “repetitiva”.
Três anos após o lançamento de Entr’ acte, surge um divisor de águas na história do cinema. Em 1927, o sistema de sonorização Vitaphone – uma enorme e desajeitada máquina de projeção, imortalizou o filme “O cantor de jazz”, que sincronizava o filme a um disco de 33 rotações. Suas inconveniências eram grandes, a baixa qualidade da amplificação da época, o chiado do disco e a eminente possibilidade do disco riscar com o tempo, e tirar o filme de sincronismo. Mas foi um sistema pioneiro que fez com que toda a conquista dos músicos até aquele momento precisasse recuar aos primórdios do som para o cinema, repensar a função dramática do som, que agora poderia incluir não só música, mas também diálogos e ruídos. O Cantor de jazz é um marco porque foi considerado o primeiro filme de grande duração com falas e canto sincronizado. Toda a estrutura básica do longa, vem dos filmes mudos, mas há um diálogo entre os personagens durante o filme. Foi uma evolução que veio para não sair mais das novas produções a partir de então. Al Jolson, foi o ator principal e o primeiro a falar e cantar em um filme, dirigido por Alan Crosland. Com o tempo, a simples "ilustração" musical redundante passou a ser vista como um terreno promissor de possibilidades. A partir daí, técnicos surgiram, os que já trabalhavam tiveram que reaprender, de acordo com os novos padrões estéticos, o som. Os limites dos quatro cantos da tela ficaram sem barreiras de linguagem, já que passou a existir a possibilidade de saber algo que está acontecendo fora das quatro linhas que determinam à imagem. Se há um tiro, um grito ou qualquer outro efeito sonoro óbvio fora da imagem, e o personagem reage a ele, o espectador sabe o que está acontecendo. Esse fator expandiu a linguagem e o espaço. Foi um primeiro passo no qual não tinha como voltar atrás. Os filmes mudos passaram a ser substituídos pelos filmes falados, e passaram a ser uma grande novidade. Os espectadores e freqüentadores assíduos das salas de cinema passaram a desfrutar dessa nova forma de fazer cinema, onde as possibilidades que o som sincronizado permitiram, fizeram da sétima arte a magia de sonhos fantásticos que lota as salas de exibição até hoje.
Parte 2








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